A NOVA RURAL COM QUATRO CILINDROS

Revista Quatro Rodas No. 185 Set. 1975

Transcrição do Teste Exclusivo da revista Quatro Rodas No. 185 de Set. 1975

A Nova Rural com Quatro Cilindros

Com o motor de quatro cilindros e novo câmbio, a Rural Ford agora pode fazer seu trabalho de utilitário melhor que antes.

Quando no começo da decada de 40, engenheiros da firma norte-americana Willys, projetaram um carro para qualquer terreno, que deveria ser utilizado pelas forças armadas dos EUA, certamente não imaginavam que aquele "Jeep" seria não apenas o salvador econômico de sua indústria mas o primeiro de uma longa serie de versões que continuam sendo produzidas até hoje. Entre estas versões, figurou uma "station-wagon", denominada Rural no Brasil.

Como todo produto industrial, com o passar dos anos as qualidades da Rural começaram a se destacar menos: afinal de contas, nossa rede rodoviária foi se expandindo, o asfalto invadindo o interior e permitindo a circulação de veículos mais modernos, ao mesmo tempo em que, no trafego das cidades, carros mais leves e menos robustos, em eventuais choques, iam tomando seu lugar, gastando menos gasolina, com maior agilidade para fugir dos congestionamentos cada vez mais frequentes. Mas nem por isso sua produção deixou de ser viável, porque ele continuou sendo vendido para as zonas rurais.

Agora como a Ford projetou e construiu um motor de características modernas, resolveu equipar com ele a Rural. Seu velho grupo motopropulsor, de seis cilindros, cedeu lugar ao novo motor de quatro cilindros, naturalmente acompanhado por um câmbio tambem novo, ambos produtos de muitas horas de cálculos e testes.

 
O motor de quatro cilindros é o mesmo do Maverick, modificado de 99 HP a 5400 rpm para 91 HP a 5000 rpm, tornando-se mais durável e elástico   Seus freios a tambor nas quatro rodas devem ser usados com cuidado porque não são dos mais eficientes: é preciso fear aos poucos, sobretudo com o carro vazio, para evitar o travamento das rodas traseiras e deslocamento lateral.

Ferramenta de Trabalho

A definição da Ford de que a Rural é uma "ferramenta de trabalho", é absolutamente correta e com ela concordamos, a ponto de basear-nos nessa premissa para o julgamento das virtudes e dos defeitos da Rural, com tração em duas rodas, que Quatro Rodas submeteu a seu teste completo.

Assim, antes de mais nada é necessário eliminar algumas impressões subjetivas. Um carro como o Meverick, por exemplo, que tem o mesmo grupo moto propulsor da Rural, não pode, de forma alguma, ser comparada a ela: são produtos finais diferentes para utilização diferente. Por isso determinadas formas de conduta do veículo, que seriam inadmissíveis no Maverick, são perfeitamente normais na Rural, e vice-versa.

Em estabilidade por exemplo, como a Rural tem eixo rigido na frente e atrás, e um centro de gravidade excepcionalmente alto, num peso total de de quase tonelada e meia, reage às tentativas de modificar sua trajetória e só segue a trajetoria definida pelo motorista quando a tomada de curva é feito com toda cautela, de modo a possibilitar que a massa em movimento se acomode devagar na suspensão. Na segunda etapa, quando a curva já tiver sido iniciada, de forma correta, então a Rural aceita até mesmo uma certa dose de aceleração, sem movimentos parasitas. Se o motorista porém, quiser dirigir a Rural como um carro esportivo, terá sérios e graves problemas. Antes a Rural tinha suspensão dianteira independente com molas helicoidais. Substitui-la pelo eixo rígido não representou, certamente, um progresso.

Quanto à dirigibilidade, elemento que se liga diretamente à suspensão, é necessário também lembrar o formato do carro e sua altura do solo: a carroceria pode ser idealmente decomposta em dois tijolos, um mais comprido por incluir o motor e outro mais curto, completando a altura da cabine, bem acima do solo. Isto é otimo quanto à visibilidade e excelente para trafegar fora de estrada mas é um problema em relação aos ventos laterais, sobretudo em velocidades mais ou menos elevadas. assim, é preciso realmente considerar, sob todos os aspectos, a Rural como uma ferramenta de trabalho. Isto evitará problemas. Se for usado de acordo com suas características, a Rural poderá prestar bons serviços.

Consumo

Um dos itens mais importantes da Rural, sobretudo nos dias atuais, é o consumo. A troca do motor se faz sentir de forma positiva, não apenas pelo ganho em peso (o de quatro cilindros é 53 kg mais leve do que o antigo seis cilindros e tem a mesma potência), como pelo aumento da velocidade, ponto em que a Rural nos surpreendeu ao superar amplamente as indicações da Ford, que fixa em 125 km/h seu limite, atingindo, na melhor passagem, a mais de de 132 km/h. O que não é propriamennte uma vantagem em se tratando da Rural, que pode ser razoavelmente econômica e segura se dirigido com equilíbrio. À velocidade constante de 80 km/h - perfeita para a Rural - um litro de gasolina permite percorrer 9 km, enquanto que um aumento de 50% na velocidade, isto é, a 120 km/h, corresponde a uma redução de 31% no percurso, pois então o litro da gasolina permite percorrer apenas 6,2 km. Se pelo contrário, o motorista estiver disposto a gastar um pouco de tempo mais, e viajar a 60 km/h ao invés de faze-lo a 120 km/h, conseguirá "esticar" sensivelmente o litro de gasolina: ao invés de 6,2 km, percorrerá 10,2 km. E, o que é muito importannte, estará fazendo economia com extrema segurança, pois a Rural não foi construida para ser um carro veloz: quem quiser correr, com este mesmo motor Ford de quatro cilindros deve comprar o Maverick, nunca a Rural.

Motor e Câmbio

O motor de quatro cilindros, um sucesso no Maverick, ao ser montado na Rural foi ligeiramente modificado em seu diagrama, para se adaptar melhor às características utilitárias do veículo. Assim a potência foi reduzida de 99 para 91 HP, e o regime em que ela é obtida também baixou das 5400 rpm originais para 5000 rpm. À primeira vista isso pode parecer pouco importante, mas contribui decididamente para adecuar o motor ao resto do projeto, aumentando ainda mais a durabilidade, e possibilitando, o que é muito importante, uma modificação da curva de torque, aqui mais plana. Seu torque máximo aumentou de 16,9 para 17 mkgf enquanto o regime em que isto ocorre diminuiu de 3200 para 3000. Isso significa que o motor é mais elástico,a necessidade de troca de marchas é menor, numa ampla faixa de utilização é suficiente presionar levemente o acelerador para que, mesmo em quarta, a Rural retome seu caminho após uma desaceleração. Sempre com o motor funcionando "redondo", sem falhas nem engasgadas, o que, como é possível evidenciar pelo exame do cano de descarga, demonstra a perfeita regulagem da carburação.

Acoplado ao motor, um câmbio que tem lubrificação permanente (durante toda a vida útil da Rural não é necessário trocá-lo), um funcionamento preciso e silencioso, mesmo nas condições difíceis que se observam no teste de aceleração, e novas relações que permitem subir rampas com até 36o de inclinação. (Alias, vale lembrar que a Rural oferece, como opções, a tração nas quatro rodas, reduzida e o diferencial autoblocante, para condições de utilização ainda mais severas.) Entre câmbio e motor, uma embreagem monodisco a seco de 216 mm de diâmetro que não apresentou qualquer sinal de desgaste ao longo de todo o teste, constituindo-se um dos pontos altos do veículo. Naturalmente o motor da Rural, que é alimentado por um carburador Solex de corpo simples (no Maverick, pelo contrário, é usado um duplo corpo) utiliza gasolina comum e em condições normais não apresenta auto-ignição nem batidas de pinos, nem qualquer sinal de superaquecimento. Ao longo do teste, numa temperatura ambiennte de 31 graus, o termômetro permaneceu sempre próximo da marca dos 80 graus, o que garante total tranqüilidade ao motorista.

Freios

Parar uma tonelado e meia (no caso da Rural levar só o motorista) ou duas toneladas e pouco (com carga total) não é fácil, quando o projeto original estabeleceu limites técnicos e de custo bem claros. Assim, eliminada qualquer pretensão a freios a disco e limitador de freada no eixo traseiro, solução sofisticada para um veículo que já vem sendo fabricado há mais de 30 anos, a solução é ficar mesmo com os velhoos tambores nas quatro rodas e calibrá-los da melhor forma possível, coisa , por sinal nada fácil, pois nos dois extremos - sem carga ou com carga total - a situação se modifica fundamentalmente. Assim o motorista deve ter em mente isso, ao frear em emergência a Rural: com o carro vazio, é imprescindível modular a freada para evitar o travamento do eixo traseiro que, sem carga, levanta-se e desloca-se lateralmente. Naturalmente o problema, como quase todos os da Rural, só aparece com certa intensidade em velocidades superiores aos 80 km/h. Desde que o motorista tenha conhecimento dele, e das causas que o provocam, a solução é imediata.

Aceleração e velocidade

A marcação do velocímetro da Rural, ao contrário de todo o resto do carro, melhora com o aumento da velocidade: a 40 km/h é muito impreciso, a 60 já é razoavel para um utilitário, a 80 é muito boom e daí para cima não registra erros. Assim, a velocidade máxima é exatamente a indicada pelo velocímetro, com média de 129,032 e a melhor passagem a 132,352 km/h, valores ensivelmente melhores que os indicados pela fábrica, e muito bons também para as características gerais do veículo.

Quanto à aceleração, é compatível com o uso da Rural, percebendo-se claramente certo "estrangulamento" do motor na faixa mais alta de rotações, por causa da substituição do carburador de duplo corpo, que equipa esse motor quando utilizado no Maverick, por um de corpo simples e à modificação do diagrama geral. Mas é aconselhável não "esticar" as marchas, o que aumenta sensivelmente o consumo a não ser em caso de necessidade. O tempo médio para se chegar aos 100 km/h foi de 22 segundos, um pouco elevado em relação aos dados de fábrica, que falam em 19 segundos.

Tambem foi considerado alto o rendimennto anunciado pela Ford, de 8,9 km/litro, enquanto no nosso teste, pelo sistema Quatro Rodas, chegamos a 7,5 km/litro.

Conclusão

A Rural, agora equipada com motor de quatro cilindros, constinua sendo uma boa ferramenta de trabalho, modernizada no seu grupo motopropulsor mas igual no resto. Assim deve ser entendido e utilizada adequadamente, sendo certo que, usada inteligentemente, prestará ainda anos de bons serviços no Brasil. Mas a conservação do projeto, em seu todo, não impede que a Ford faça algumas pequenas mudanças em detalhes. Como as maçanetas da porta e do vidro, contra as quais se choca o relógio do motorista se estiver usando um, ou a alavanca do pisca-pisca que deveria ser mais alta, a fim de ser acionada sem tirar a mão da direção. Ou o cinto de segurança que desliza e não segura. E, finalmente, o oferecimento como opcional, de uma alavanca do câmbio, colocado no piso, mais prática tanto no uso como na manutenção. São todos detalhes que não invalidam o bom conceito da Rural, mas de que a fábrica poderia cuidar, aumentanndo, a um custo industrial mínimo, o agrado da Rural junto a seu público.

   
O acelerador muito proximo impede que pessoas de estatura média ou alta estiquem a perna.   O volume útil aumenta de 1298 para 1898 litros com o banco traseiro inclinado para a frente, permitindo boa capacidade de carga. O estepe sai facilmente.   Detalhes que deveriam ser modificados são as maçanetas das portas e vidros que incomodam pelo formato e má colocação

Resultados Rural 4 cilindros

Desempenho Rural 4 cilindros


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Criado: 05/09/2002 - Atualizado: 07/09/02

Transcrição integral redigitado do Teste Exclusivo da revista Quatro Rodas No. 185 de Set. 1975

Fonte: Revista Quatro Rodas No 185 Setembro 1975, páginas 48-53, reportagem de Claudio Carsughi, fotos de Jussi Lehto.

Revista cedido por André Buriti/RJ