Rural-Willys foi a pioneira entre os utilitários

Modelo da Willys levou cargas e passageiros pelas estradinhas do interior do país. Na cidade grande também foi popular.

Texto e foto de Jason Vogel reproduzido com autorização

Texto e fotos obtidos da reportagem do caderno CARRO ETC do jornal O GLOBO, RJ de 10/06/1998


Nos anos 50, as estradas brasileiras eram ainda piores que as de hoje: faltava asfalto e sobrava lama. Não é de se espantar que a montadora americana Willys-Overland tenha se interessado pelo país nos tempos de industrialização entre o fim do governo Vargas e o início dos anos JK.

A Willys era uma fábrica independente que, durante os anos da Segunda Guerra, ganhou força produzindo o Jeep. Com o fim do conflito, este modelo passou a ser vendido também para civis (era considerado equipamento agrícola). Por volta de 1947, a Willys começou a diversificar a linha, criando versões "sociais" do Jeep: uma era o Jeepster (conversível que nunca foi feito no Brasil), outra era a Station Wagon.

Os planos da Willys em São Bernardo do Campo foram iniciados em 1952. Quatro anos depois, a fábrica começou a montar os Jeep, usando peças brasileiras. A Willys Station Wagon, até então importada, passou a ser feita no Brasil no fim de 1958 - e foi logo rebatizada de Rural-Willys.

As linhas eram as mesmas do modelo americano. Um detalhe característico era a pintura saia-e-blusa: verde e branca, vermelha e branca ou azul e branca.

Nos primeiros tempos a mecânica era tão rústica quanto a dos Jeep. O motor a gasolina, de seis cilindros e 2.638cc, rendia 90 cavalos. O câmbio era de três marchas, com caixa de transferência para tração 4x4. Havia eixos rígidos na dianteira e na traseira.

Além do uso no campo, o utilitário da Willys também era comum nas cidades e muito usado como carro de frota. A primeira grande inovação veio na Rural de 1960: a dianteira ganhou linhas exclusivas para o mercado brasileiro. O pára-brisa passou a ser inteiriço e o mesmo aconteceu com o vidro traseiro. Isso sem esquecer da Pick-up Jeep, na verdade uma Rural com caçamba.

Depois, foi a vez da Rural 4x2. Feita para quem não precisava enfrentar trilhas difíceis, tinha alavanca de câmbio na coluna de direção. Para aumentar o conforto, foi lançada em 1964 com suspensão independente na dianteira e molas helicoidais (em vez de eixo rígido e feixes de molas).

Quando a Ford incorporou a Willys-Overland do Brasil, em 1967, as linhas Jeep e Rural foram mantidas. A caminhonete chegou a ganhar um motor de 3.0 litros e dois carburadores que rendia 140cv. Havia também a versão quatro marchas.

Com a crise do petróleo, a Ford passou a equipar a Rural com o motor 2.3 de quatro cilindros do Maverick. Mas já era tarde e a Rural tinha quase 30 anos em linha. Em 1976 a produção foi encerrada (a picape Jeep F-75 durou até 1982).

Para os padrões de hoje, a Rural é um carro lento e beberrão (cerca de 6,5km/l na estrada, na versão 4x2 com motor 2.6). Mas o que importa num carro desses é a resistência: mesmo alquebradas, muitas Rural continuam prestando serviços em cidades do interior ou para jipeiros e feirantes.

- Desde que se lubrifique sempre os mais de 30 pinos de graxa, a suspensão dura para sempre - ensina o professor universitário Fernando Curvello, dono de uma brilhante Rural 4x2 1970.


 

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